segunda-feira, 21 de março de 2011

Namoro, de Luís Fernando Veríssimo


Aí está um texto muito bom sobre o namoro. É pra ler e rir.


Namoro

O melhor do namoro, claro, é o ridículo. Vocês dois no telefone:

- Desliga você
- Não, desliga você.
- Você.
- Você.
- Então vamos desligar juntos.
- Tá. Conta até três.
- Um... dois... dois e meio...

Ridículo agora, por que na hora não era não. Na hora nem os apelidos secretos que vocês tinham um para o outro, lembra? Eram ridículos. Ronron. Suzuca. Alcizanzão. Suruzuzuca. Gongonha (Gongonha!) Mamosa. Purupupuca...

Não havia coisa melhor do que passar tardes inteiras num sofá, olho no olho, dizendo:

- As dondozeira ama os dondozeiro?
- Ama.
- Mas os dondozeiro ama as dondozeira mais do que as dondozeira ama os dondozeiro.
- Na-na-não. As dondozeira ama os dondozeiro mais do que, etc.

E, entremeando o diálogo, longos beijos, profundos beijos, beijos mais do que de línguas, beijos de amígdalas, beijos catetéricos. Tardes inteiras. Confesse: ridículo só por que nunca mais.

Depois do ridículo, o melhor do namoro são as brigas.Quem diz que nunca, como quem não quer nada, arquitetou um encontro casual com a ex ou o ex só para ver se ela ou ele está com alguém, ou para fingir que não vê, ou para ver e ignorar, ou para dar um abano amistoso querendo dizer que ela ou ele agora significa tão pouco que podem até ser amigos, está mentindo. Ah, está mentindo.

E melhor do que as brigas são as reconciliações. Beijos ainda mais profundos, apelidos ainda mais lamentáveis, vistos de longe. A gente brigava mesmo era para se reconciliar depois, lembra? Oito entre dez namorados transam pela primeira vez  fazendo as pazes. Não estou inventando. O IBGE tem as estatísticas.

(VERÍSSIMO, Luís Fernando. Correio Braziliense. 13/06/1999)


Abraço do Leo!

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