domingo, 27 de outubro de 2013

Afinal, o que é política?

O homem enquanto animal possui necessidades, primárias ou secundárias, e que devem ser sanadas. Alimentação, saúde e segurança são necessidades básicas fundamentais a qualquer ser humano, sem o qual não se garante a manutenção da vida, que é o seu principal objetivo. Porém o homem sozinho não tem capacidade de garantir tais necessidades fundamentais, e precisa buscar uma forma de conseguir sobreviver. Dessa busca pela sobrevivência surge o maior passo evolutivo da humanidade: a vida em sociedade.

Ao perceber que o convívio social é mais vantajoso e oferece mais possibilidades de sobrevivência, a humanidade passou a viver em grupos, pois assim conseguia-se garantir a saúde e a segurança, uma vez que os membros do grupo se cuidam entre si, e a alimentação, com o aumento da quantidade e da variedade alimentar.

O convívio dos indivíduos em sociedade representa um avanço social e intelectual, porém apresenta aos indivíduos uma série de novos problemas: como garantir um convívio pacífico? Como garantir que o indivíduo tenha uma função social, que colabore com o grupo? Como definir os limites e os direitos individuais, e resolver conflitos de interesses? É da necessidade de resolver tais problemas que surge a política.

A política é, por natureza, a prática individual ou coletiva que visa defender interesses, pessoais ou coletivos. O convívio pacífico entre indivíduos é um interesse coletivo, por tanto defender este convívio é um ato político. Enquanto membro de uma sociedade o indivíduo tem uma função social, e discutir qual é esse papel também é um ato político.

A face mais conhecida da política é a prática de elaboração de normas sociais. Ao viver em sociedade o homem se vê em um constante conflito de interesses, porém é preciso estabelecer quais interesses são relevantes, não só para um indivíduo, mas para todo o corpo social que será atingido por tais interesses.

Abraço do Leo!

segunda-feira, 18 de março de 2013

Ética: uma questão social



Nos dias de hoje não há um cidadão que não tenha ouvido falar em ética. Essa palavra se tornou tão comum ao cotidiano de todos, e é comum associar ela a política, aos escândalos políticos e a corrupção, nos mais diversos âmbitos governamentais.

Mas afinal, o que é ética? Como é possível definir o que é ser ético ou não?

Para a filosofia moderna ser ético seria agir de acordo com determinados valores, que seriam definidos pela sociedade. Com base em tais valores é que seriam definidos os conceitos de bom ou mau. De forma simplificada, ser ético seria agir de forma que todas as suas atitudes fossem boas, sem prejudicar ninguém.

Ao associar ética somente a política está se cometendo um erro, já que todas as ações de um ser humano envolvem ética. É comum encontrar quem critique aqueles que são acusados de corrupção dizendo que elas não tem ética, mas essas mesmas pessoas são aquelas que no dia a dia trapaceiam para levar vantagem sobre os outros. Essas pessoas tem tanta ética quanto aqueles que criticam.

A questão da ética é algo complicado de resolver. Seriam necessárias várias gerações para que esse problema fosse resolvido. Para isso seriam necessárias mudanças em pontos fundamentais da sociedade, principalmente no que diz respeito a educação, tanto de origem familiar quanto a educação formal. Somente com a adesão massiva da sociedade a uma mudança de valores, para valores que visem não prejudicar os outros, é que poderemos viver em uma sociedade com ética.


Abraço do Leo!

quarta-feira, 13 de março de 2013

Os errados são os certos?



Já faz algum tempo, ou melhor, desde que me conheço por gente que enfrento críticas ao meu jeito de ser, justamente por fazer o perfil do cara que é certinho demais. Na maior parte das vezes quando recebo uma crítica assim opto por ficar calado, absorver o que é possível de se absorver e ignorar o resto. Porém, depois de tantos anos ouvindo a mesma conversa sinto que chegou a hora de falar: qual o problema de ser certinho? O que há de errado nisso?

Acho realmente curioso uma crítica dessas partir de uma sociedade - aliás, acusar a sociedade aqui é ser injusto: as críticas vem da nossa juventude, aquela mesma que adota frases como "tenha o seu jeito de ser" como lema - tão "liberal" e defensora dos direitos sociais. Acho realmente curioso ver que as mesmas pessoas que defendem o direito de ser "vida loka", ou o direito de ser skatista, ou ainda o direito de serem "hipsters" são as mesmas pessoas que criticam alguém por ter um estilo certinho de ser. Onde está aquela frase "seja você" numa hora dessas? Será que tudo não passou de uma hipocrisia da nossa juventude?

Ah, essa nossa juventude hipócrita. Todos se dizem tão diferentes, tão "pensantes", autônomos, mas no fundo não passam de um bando de "iguais". Um rebanho de ovelhas que seguem as tendências e ideologias que um grupo verdadeiramente esperto pensou para eles. No fundo não passam de uma engrenagem de um sistema que se aproveita deles mesmos. Aliás, nunca vi tanto "roqueiro" com a camisa do Nirvana, ou hipster com camisa xadrez na minha vida. Também nunca vi tanta gente gostar de Star Wars, ou assistir The Big Bang Theory. O que não se faz para fazer parte de um grupo...

Pois se é para ser eu mesmo, saibam que sou certinho sim. Sou certinho por convicção. Sou certinho por que quero e por que gosto de ser certinho. É o meu estilo, e me faz bem. Chega de ouvir conselhos fúteis que ouvi a vida toda como "você precisa ser assim", "você precisa fazer isso", "você precisa pensar dessa forma", que no fundo se converte na mesma ideia: seja mais uma ovelha no rebanho, seja um "Zé vai com os outros", não tenha personalidade e siga o que o grupo social quer.

Talvez seja por isso que nunca integrei nenhum grupo social. Nunca tive uma identidade em um grupo. Nunca fui punk, nunca fui emo, nunca fui "roqueiro" (embora goste de rock), e nem skatista. Sempre me recusei a aceitar um modelo pré-pensado para mim, e no fim ser apenas mais um, sem identidade própria no meio da multidão. Talvez seja por isso que insisto em ser certinho, por que sendo autêntico eu construo a minha própria personalidade. Sendo genuinamente "eu mesmo" consigo ser independente, autônomo, e seguir verdadeiramente meus ideais. Afinal, tudo o que faço para ser considerado certinho é seguir meus ideais, fazer o que acho correto.

Mas uma coisa eu também preciso assumir: não sou tão certinho como pensam que sou. Acho realmente engraçado quando pessoas se espantam com certas frases, atitudes e posições minhas. É engraçado ver esse estigma ser quebrado, e uma nova visão ser formada. Uma visão mais real. Afinal de contas eu também sou humano, e como humano me dou o direito de agir igual a um.

Só que quando descobrem que sou humano como qualquer um geralmente surge um problema para mim: as pessoas começam a me julgar. Curioso isso, pois é difícil conviver com pessoas me julgando por ser certinho, pessoas me julgando pelos meus erros, e pessoas que ainda me julgam por tentar concertar os meus erros! Caraca! Isso é complicado demais!

Já diz a célebre frase da sabedoria popular: nem Jesus Cristo conseguiu agradar a todos, por que eu que tenho que agradar? Será que meus críticos favoritos poderiam se decidir sobre o que vão me criticar? Se é por ser certinho demais, se é por não ser certinho demais ou se é por tentar ser nem um nem outro? Sorte destas pessoas por eu ser "certinho demais" para falar o que eu realmente gostaria de falar...

Eu mesmo poderia muito bem ignorar tudo isso, mas ser julgado implica certas posições dos outros: como tudo o que é "diferente" sempre há um quê de exclusão, por mais sutil que seja. Seria eu tão diferente assim? Seria desumano ser certinho? Será que os certinhos são a nova minoria, tal como os gays, as lésbicas e os bissexuais já foram um dia?

O que me irrita mesmo é ser julgado por agir de acordo com meus ideais, por pessoas que nem sempre seguem seus ideais! De onde será que essas pessoas tiram o direito para poderem vir falar de mim? É complicado...

Que este texto deixe claro minha posição quanto a tudo isso. Não irei abrir mão daquilo eu acho certo, e continuarei sendo certinho. Talvez seja justamente por tudo isso que eu me sinta tão atraído pela área jurídica. Por ter ideais. Por buscar pensar por mim mesmo. Por poder pensar sobre o que é certo, fazer o que é certo e lutar pelo o que é certo. Gostem ou não, me julguem ou não.


Abraço do Leo!

segunda-feira, 11 de março de 2013

Vou estar defendendo o uso do gerúndio



"A gerência vai estar transferindo três mil reais de sua conta ". Quem falar ou escrever uma frase assim atualmente corre risco de ser ridicularizado. Culpa do gerúndio (e de sua junção com os verbos ir e estar), tachado de assassino do idioma por alguns gramáticos e formadores de opinião da mídia. Esse gerúndio é vítima da irritação dos usuários com seus maiores divulgadores, os operadores de telemarketing, que nos obrigam a sofrer para ter acesso telefônico a serviços de empresas. Mas será que o equívoco neste processo é justamente o uso do gerúndio? Seria o gerúndio um erro gramatical da mesma ordem de falhas como "eu dispor" em vez de "se eu dispuser" ou "interviu" em vez de "interveio". E afinal de contas, o que é que o gerúndio está "assassinando"?

Para desprestigiá-lo, um observador afirmou que o gerúndio é uma firula desnecessária, um drible a mais na comunicação. Dizem, por exemplo, que "estar cuidando" tem o mesmo sentido que "cuidar". Mas todos nós temos o direito de usar ou não usar certas palavras, expressões ou locuções. Qualquer idioma serve às intenções comunicativas dos seus falantes. Um determinado usuário pode dizer "vamos estar cuidando do seu caso" quando tem interesse em expressar continuidade, cordialidade ou polidez, ao passo que outro falante pode desejar ir direto ao ponto recorrendo à forma simples: "vamos cuidar do seu caso" – que caracteriza um tratamento mais descomprometido ou "seco".

Outros falantes alegam que "vai estar transferindo" significa que repetidas transferências de dinheiro serão feitas pela agência bancária. É uma interpretação pessoal, que nada tem haver com as regras da gramática. Além disso qualquer cliente sabe que os bancos cuidam bem de suas contas e nunca vão esbanjar dinheiro fazendo transferências à toa. Ainda mais levando-se em conta a voracidade da CPMF.

A campanha contra o gerúndio, creio, é fruto de um preconceito linguístico sem embasamento numa pesquisa de campo entre os diferentes tipos de usuários de português em diferentes contextos. Pergunto por que os desafetos do gerúndio condenam a frase "ele vai estar chegando na parte da tarde" quando os mesmos aceitam tranquilamente a presença dos verbos modais: "ele pode estar chegando, ele deve estar chegando, ele tem de estar chegando na parte da tarde"?

Subjacente à polêmica em torno da campanha de "cassação" do gerúndio, existe uma vontade geral de colocar o idioma numa redoma de vidro e não reconhecer que ele muda ao longo do tempo. O português da época de José de Alencar é diferente do português contemporâneo. Todas as línguas vivas inovam graças à criatividade dos seus usuários. Alguns críticos, com o intuito de proteger e manter o idioma estável, implicam com novos verbos, como "disponibilizar", novos substantivos como "descatracalização", novos adjetivos como "imexível" e "descuecado" ou até com estrangeirismos (sem equivalentes em português), como "dumping" e "ombudsman".

Para tentar banir o gerúndio do idioma, alguns observadores questionam as credenciais do mesmo e sugerem que ir+estar+verbo no gerúndio é resultado da invasão sintática do inglês. Essa crença não procede porque, em primeiro lugar, os falantes em questão nem sempre dominam o inglês o suficiente para o idioma estrangeiro interferir no português. Em segundo lugar, o português brasileiro apresenta uma variedade de gerúndios – e o inglês não. Alguns exemplos: "olha, está querendo chover" e "não estou podendo tirar férias agora". Cabe observar também que os idiomas francês e alemão não tem gerúndios. É a presença no idioma de uma sentença como: "o plantonista está atendendo na parte da tarde" que serve como ponte para a realização de: "o plantonista vai estar atendendo amanhã na parte da tarde". Na verdade, ao lado de formações como o infinitivo conjugado ("para comprarmos"), a mesóclise ("dir-se-á") e o futuro do subjuntivo ("se ele der"), a presença de gerúndios contribui para diferenciar o português de todas as outras línguas. É como Zeca Pagodinho e caipirinha: só o Brasil tem.


*Por John Robert Schmitz, integrante e ex-chefe do Departamento de Linguística Aplicada da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Texto retirado da revista Superinteressante, do mês de Março de 2005.


Abraço do Leo!