quinta-feira, 24 de setembro de 2015

Namoro



O melhor do namoro, claro, é o ridículo. Vocês dois no telefone:

- Desliga você
- Não, desliga você
- Você
- Você
- Então vamos desligar juntos.
- Tá. Conta até três
- Um... Dois... Dois e meio...

Ridículo agora, porque na hora não era não. Na hora nem os apelidos secretos que vocês tinham um para o outro, lembra? Eram ridículos. Ronron. Suzuca. Alcizanzão. Surusuzuca. Gongonha (Gongonha!). Mamosa. Purupupuca...

Não havia coisa elhor do que passar tardes inteiras num sofá. Olho no olho, dizendo:

- As dondozeira ama os dondozeiro?
- Ama.
- Mas os dondozeiro ama as dondozeira mais d que as dondozeira ama os dondozeiro.
- na-na-não. As dondozeira ama os dondozeiro mais do que, etc.

E, entremeando o diálogo, longos beijos, profundos beijos, beijos mais do que de línguas. Beijos de amígdalas. Beijos catetéricos. Tardes inteiras. Confesse: ridículo só porque nunca mais.

Depois do ridículo, o melhor do namoro são as brigas. Quem diz que nunca, como quem não quer nada, arquitetou um encontro casual com a ex ou o ex só para ver se ela ou ele está com alguém. Ou para fingir que não vê. Ou para ignorar. Ou para dar um abano amistoso querendo dizer que ela ou ele agora significa tão pouco que podem até ser amigos, está mentindo. Ah, está mentindo.

E melhor do que as brigas são as reconciliações. Beijos ainda mais profundos, apelidos ainda mais lastimáveis, vistos de longe. A gente brigava mesmo era para se reconciliar depois, lembra? Oito entre dez namorados transam pela primeira vez fazendo as pazes. Não estou inventando. O IBGE tem as estatísticas.

VERÍSSIMO, Luís Fernando. Correio Brasiliense. 13/06/1999.


Abraço do Leo!

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